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                - Exatamente.

                - Exatamente o que?

                - Míseros três euros.

                - Sim, com três euros mal consigo pagar um café.

                - Está vendo? Três, dois e cinquenta... não faz diferença. Esse dinheiro não vai funcionar como capital completo para nenhuma compra sua, terá que ser juntado a uma soma maior para ter valor.

                - Que diferença isso faz?

                - Exatamente!

                - Exatamente o que, senhor?

                - Não faz diferença para você. Os cinquenta centavos de euro não teriam utilidade sozinhos.

                - Sim, mas, se eu lucrar cem euros e quiser fazer uma compra de cem euros e cinquenta centavos de euro, não me será possível por causa do desconto que eu lhe daria.

                - Se você é tão organizado quanto ao sistema de vendas e descontos, duvido que faria algo tão irresponsável quanto gastar todo o lucro do dia em uma única compra. Aposto que tem uma poupança...

                - Sim, lógico que não faria isso, foi apenas um exemplo seguindo a sua lógica.

                - Não, minha lógica leva em conta a poupança.

                - Três euros. Preço final.

                - Soou resoluto.              

                - Estou sendo resoluto desde o início.

                - Não, no início me propôs quatro.

                - Desde o início da barganha final, senhor.

                - Com todo o respeito, mas você é judeu? Judeus tem fama de serem aficionados com comércio, lucro, essas coisas. Eu respeito. Aqui, então, com toda a reconstrução pela qual vocês tiveram que passar depois do regime nazista e tudo o mais...

                - Eu não sou judeu, senhor.

                - Se eu levasse isto aqui também? Você tinha dito antes que custava cinquenta. Faria tudo por três então?

                - Não posso, perderia cinquenta centavos de euro e uma mercadoria que poderia ser vendida por um preço mais alto.

                - Mas levaria seus três euros.

                - Pensei que o senhor só tivesse dois e cinquenta.

                - Obrigada, dois e cinquenta então?

                - Como?

                - Dois e cinquenta, a quantia que tenho.

                - Sim, mas o preço é três.

                - Mas você falou... eu pensei...

                - Escute, posso fazer este outro produto, que inicialmente custa três e cinquenta, por dois e cinquenta. O que acha?

                - Mas eu estaria perdendo cinquenta centavos de euro em valor de mercadoria.

                - Com licença, eu preciso devolver o produto ao mostruário.

                - Mas eu tenho intenção de comprá-lo.

                - Por menos de três euros não será possível.

                - Mas eu já me apeguei a ele...

                - São cinco para as cinco, senhor.

                - Então vai me vender por dois e cinquenta?

                - Não, senhor. Preciso que me devolva o produto para que eu possa desmontar a barraca.

                - Isso quer dizer que você já não vai mais vendê-lo, certo?

                - Talvez no próximo domingo.

                - Mas ele vai estar desvalorizado.

                - As coisas funcionam assim, é normal.

                - Então prefere talvez ter que vender mais barato por conta da desvalorização do que me vender pelo mesmo preço agora, que está bem conservado?

                - O produto, senhor. Tenha uma boa noite.

                Deixou o mercado de pulgas com trezentos  euros em mercadoria e dois e cinquenta em dinheiro, parou na barraquinha mais próxima do Mauerpark e pediu uma Bratwurst clássica.

                - Três euros, senhor.

                - Dois e cinquenta?

                

 

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Marina Morais.

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