
words grow in trees
Marina Morais
- Exatamente.
- Exatamente o que?
- Míseros três euros.
- Sim, com três euros mal consigo pagar um café.
- Está vendo? Três, dois e cinquenta... não faz diferença. Esse dinheiro não vai funcionar como capital completo para nenhuma compra sua, terá que ser juntado a uma soma maior para ter valor.
- Que diferença isso faz?
- Exatamente!
- Exatamente o que, senhor?
- Não faz diferença para você. Os cinquenta centavos de euro não teriam utilidade sozinhos.
- Sim, mas, se eu lucrar cem euros e quiser fazer uma compra de cem euros e cinquenta centavos de euro, não me será possível por causa do desconto que eu lhe daria.
- Se você é tão organizado quanto ao sistema de vendas e descontos, duvido que faria algo tão irresponsável quanto gastar todo o lucro do dia em uma única compra. Aposto que tem uma poupança...
- Sim, lógico que não faria isso, foi apenas um exemplo seguindo a sua lógica.
- Não, minha lógica leva em conta a poupança.
- Três euros. Preço final.
- Soou resoluto.
- Estou sendo resoluto desde o início.
- Não, no início me propôs quatro.
- Desde o início da barganha final, senhor.
- Com todo o respeito, mas você é judeu? Judeus tem fama de serem aficionados com comércio, lucro, essas coisas. Eu respeito. Aqui, então, com toda a reconstrução pela qual vocês tiveram que passar depois do regime nazista e tudo o mais...
- Eu não sou judeu, senhor.
- Se eu levasse isto aqui também? Você tinha dito antes que custava cinquenta. Faria tudo por três então?
- Não posso, perderia cinquenta centavos de euro e uma mercadoria que poderia ser vendida por um preço mais alto.
- Mas levaria seus três euros.
- Pensei que o senhor só tivesse dois e cinquenta.
- Obrigada, dois e cinquenta então?
- Como?
- Dois e cinquenta, a quantia que tenho.
- Sim, mas o preço é três.
- Mas você falou... eu pensei...
- Escute, posso fazer este outro produto, que inicialmente custa três e cinquenta, por dois e cinquenta. O que acha?
- Mas eu estaria perdendo cinquenta centavos de euro em valor de mercadoria.
- Com licença, eu preciso devolver o produto ao mostruário.
- Mas eu tenho intenção de comprá-lo.
- Por menos de três euros não será possível.
- Mas eu já me apeguei a ele...
- São cinco para as cinco, senhor.
- Então vai me vender por dois e cinquenta?
- Não, senhor. Preciso que me devolva o produto para que eu possa desmontar a barraca.
- Isso quer dizer que você já não vai mais vendê-lo, certo?
- Talvez no próximo domingo.
- Mas ele vai estar desvalorizado.
- As coisas funcionam assim, é normal.
- Então prefere talvez ter que vender mais barato por conta da desvalorização do que me vender pelo mesmo preço agora, que está bem conservado?
- O produto, senhor. Tenha uma boa noite.
Deixou o mercado de pulgas com trezentos euros em mercadoria e dois e cinquenta em dinheiro, parou na barraquinha mais próxima do Mauerpark e pediu uma Bratwurst clássica.
- Três euros, senhor.
- Dois e cinquenta?