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Nem tudo tem que ser bonito, Bárbara. Sei que já te contaram, mas a beleza é pessoal e intermitentemente mutável. Para que eu possa ver o meu bonito, é necessário que te roube o teu por uns instantes; e, daqui há alguns anos, talvez teu bonito te pareça feio, e o que vistes como feio seja a mais bela das criações do planeta.

E, até se todos compartilhássemos os mesmos olhos, ainda assim nem tudo teria que ser bonito, Bárbara. Tu só reconheces o que julgas bonito porque conheces o que te parece feio. Na excitação do nascimento há dor, assim como há dor no alívio da despedida eterna. O agridoce faz da beleza uma conquista, e da conquista uma jornada – em si, vê só, também agridoce.

Lembras dos tempos de escola, Bárbara? Puxavam tuas tranças e provocavam tua ira, rindo aos montes do sucesso de sua empreitada. Tu te deixavas impressionar pelo momento e cobrava que retirassem as palavras de ofensa, demandavas a verdade; uma verdade que era tua, não deles, mas que eles acatavam pelo prazer de te fazer acreditar que não fariam mais aquilo, pois agora entendiam. Na semana seguinte, seus dedos estavam em teus cabelos outra vez.

Educa o bonito, Bárbara, mas não espera adesão. Cobra que aceitem, cobra que respeitem, mas não cobra que sintam o mesmo que tu sentes. Educa-se a mente, não o coração. Sei que dirás que falar de coração é baboseira, que está tudo na mente; e me olharás com afronta e cobrarás que eu“vá e leia um livro de ciências”.

Eu li, Bárbara. Entendo as propriedades científicas de teu argumento. Mas não sentes o coração apertar quando as feiúras do mundo te sufocam? Não sentes ele pulsar mais rápido quando vês algo tão belo, que a gravidade é levada embora, fazendo-te flutuar sem que teus pés jamais deixem o chão? Sei que sentes e, mais que isso, sei que me compreendes.

Vai e acha, conserva, muda, recupera, absorve e exulta-te nas tuas belezas, Bárbara. Deixa que o belo te inspire tolerância, deixa que o tempo te dê paciência. E te peço com todas as forças do meu ser: deixa que eu faça meu juízo de bonito sem que me julgues incapaz, sem que torças para o meu fracasso, sem que contribuas para o meu embargo.

 

Sê bonita tu também, Bárbara.

Bárbara

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