
words grow in trees
Marina Morais
Demorei a perceber qual era o seu mau hábito.
A maioria das pessoas tem manias e costumes chatos, irritantes e facilmente identificáveis.
Você não. Você não rói a unha, você não é supersticioso, você não tem condições especiais para dormir, você não palita os dentes no restaurante. Achei que tinha encontrado a única pessoa no mundo que não tinha um mau hábito sequer.
Eu, por outro lado, tenho várias manias, você sabe. Você sempre reclama que eu rio atrasado, que eu chamo o garçom de amigão, que eu só compro meias vermelhas, que eu pigarreio antes de dar a partida no carro, que eu nunca organizo o dinheiro na carteira... mas sabe? É isso. Você reclama. Você reclama de tudo.
Você não é uma pessoa desagradável, nem mal-humorada, mas nem tudo é passível de reclamação. Entenda que, se eu lhe dou uma caixa de bombons, não estou querendo que você engorde. Se eu deixei um pouco do que você cozinhou no prato, não é porque não gostei da comida. Entenda que eu amo você e que não há nada por trás dos meus gestos com a menor intenção de magoá-lo.
Não me leve a mal, acho que é humano ter defeitos. Acho que até gosto ainda mais de você agora que descobri o seu. Não me orgulho dos meus maus hábitos, mas não quero que eles deixem de existir. Essa é a questão, entende? Você não precisa reclamar deles toda vida, eu já os conheço, já os evito. Só peço que reclame um pouco menos.
Mas não deixe de reclamar.
Amo você.