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          Ia todos os dias girar as bolas do touro na Galeria Vittorio Emanuele. No início, era só por brincadeira, já que sempre cortava caminho pela galeria para chegar ao trabalho. Com o tempo, virou obsessão. No verão, já tinha chegado a passar uma hora esperando a fila de turistas que se aglomerava em torno do touro se dispersar para que pudesse realizar a manobra. Chegara atrasada e levara uma advertência. Por precaução, passara a sair de casa duas horas antes do que costumava.

      É verdade que o namoro tinha acabado depois que ela começou a dormir cedo para acordar duas horas antes e poder parar na galeria, mas com certeza tinha sido providência divina. O rapaz devia ter algum defeito muito grave que ela ainda não sabia.

       Também perdera uma promoção porque teria que ser transferida para a outra sede da empresa, longe da galeria, mas com certeza aquilo acontecera para que o dinheiro não subisse à sua cabeça. Estava bem com o que ganhava, dinheiro demais só traz problemas, não é mesmo?

      Sexta-feira, 9 de outubro. Houve um incidente, perdera a hora. Agora precisava correr para conseguir parar na galeria e chegar a tempo no trabalho.

     Quebrou o salto tamanha a pressa e, quando chegou ao local onde ficava o touro, havia um bêbado dormindo em cima dele. Ficou nervosa, jogou a bolsa no chão, cutucou o bêbado com o pé. Ele grunhiu alguma coisa e rolou para o lado. Chechou a hora no relógio, tinha dois minutos para realizar seu ritual sem chegar atrasada.

       Deu um chute furtivo na costela do bêbado. Ele acordou espantado e enfurecido. Por que ela o chutara? Não havia tempo para explicações. Ele que saísse da frente dela naquele minuto!

       Negou-se a sair, ela perdeu o controle. Chutou o homem e bateu nele inúmeras vezes, até que ele puxou uma faca e enfiou na barriga dela, depois correu.

        Caiu lentamente, a cabeça descansando nas bolas do touro. Morrera, mas, enquanto morria, pensou que, com certeza, fora melhor assim. Algo de mais terrível a alcançaria cedo ou tarde, sem dúvidas.

Milão

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Marina Morais.

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